Era um dia lindo, o céu azul estridente e sem nenhuma nuvem. Não fazia tanto calor como faz agora e uma brisa amena soprava de vez em quando.
Foi nesse dia lindo que eu resolvi te deixar.
Resolvi não, decidi. Decidi e ainda não voltei atrás. Digo ainda porque a vida é cheia de coisas que a gente não planeja e eu não sei como vou acordar amanhã, só sei que a crise está quase no fim.
Antes, por muito pouco eu já teria voltado atrás, por isso acho que dessa vez é real.
É que, sabe, eu tenho a mania de não terminar as coisas. Eu nunca tomo todo o café com leite, sempre fica um restinho, sempre fica algo pra colocar no lugar quando eu arrumo meu quarto, eu sempre tenho mais que uma janela aberta no meu computador e fico fazendo mil coisas nele pra não precisar chegar ao fim de nada. Eu deixo de ler o último capítulo de um livro se eu gostei muito dele e é claro que eu não terminei ainda com você.
Eu sempre acho que o último capítulo ainda não foi escrito e por isso fico pensando em como vai ser quando a gente se ver.
É engraçado que nesse momento eu estou digitando sem olhar pro teclado e eu te falava que sentia inveja de você porque eu não sabia fazer isso mas desculpa, eu sei.
Eu queria fazer você se sentir o melhor cara do mundo e às vezes me diminuía pra que isso acontecesse. E acabei acreditando tanto nisso que hoje eu acho que não sirvo pra você, mesmo sabendo que na verdade é o contrário, mesmo sabendo que nunca daria certo e que eu também mereço ser feliz.
Agora me peguei olhando as outras duas abas abertas da internet, com uma mão no mouse a a outra na boca como você costuma fazer. Me dá medo ter as suas manias, parece que eu sou meio você e quando eu lembro que não me dá um vazio tão grande, um nó no peito. A sua falta no meu dia a dia tem se tornado cada vez mais palpável.
Ganhei um sabonete que me lembra um dos teus perfumes. Coloquei ele na pia e todas as vezes que alguém usa eu me lembro de você usando ele, e daquele lugar, e daquela conversa, e dos olhos.
Eu me lembro de você esparramado no sofá da minha casa, tão a vontade como se fosse sua. E das suas mãos nas minhas por alguns segundos porque você não gosta de ficar na mesma posição por muito tempo.
Aí eu lembro de todas as vezes que me fez chorar e depois pediu desculpas, de todas as crises de ansiedade que tive perto de você e do último beijo... naquele dia tudo estava bem. Naquela sexta a gente prometeu ficar juntos na terça e aí era um domingo de céu azul estridente quando eu decidi que você estava fora dos meus planos.
É muito pesado tudo o que você quer que eu carregue. Todos os dias de céu azul estridente que você não vai passar ao meu lado. Todas as minhas manias que você não vai adotar pra você e todas as vezes que você não vai se fingir de bobo pra eu me sentir melhor, você nunca faria isso por mim.
Eu decidi enterrar você vivo. Não, calma. Não seu corpo, de fato. Decidi enterrar o você que eu criei na minha cabeça cheia de cachos. Eu criei uma pessoa que não é você, é só muito parecido. Eu fui pegando todas as coisas que você me dizia e acreditando nelas e você foi ficando tão perfeito.
O você que eu criei sentia muito a minha falta, mas muito mesmo. E ele vinha todas as vezes que eu chamava. Ele pensava em mim desde quando acordava até a hora de dormir e tinha sonhos lindos da gente juntos num gramado cheio de sombras de árvores, flores caídas pelo chão e a torre Eiffel lá no fundo.
Esse você me falava só a verdade, ele não mentia. E era tão bom olhar nos olhos dele e acreditar em tudo o que ele me dizia, desde as coisas pequenas do dia a dia até as grandes conquistas.
Ele queria tomar um vinho e tocar violão pra mim. Ele queria ir pra praia e pra São Paulo jantar num restaurante chique. Ele queria aparecer na minha festa de aniversário, me dar um presente e um beijo na boca. Ele queria dançar comigo quando ninguém estivesse olhando e me falar o quanto eu estava linda mesmo sem maquiagem.
Ele queria tantas coisas, as mesmas que eu e desde que ele foi embora junto com você, eu fiquei aqui esperando que um dia você volte.
terça-feira, 24 de junho de 2014
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Sobre a menina que queria virar estrela
_Vem, não vai machucar!
_Mas eu não quero mais, não vou conseguir.
_Vai sim! Pára de graça, eu te ajudo.
_Não precisa, não quero mais. Faz você, eu fico vendo.
E era sempre assim. A menina que se encantava vendo as outras pessoas virando estrela. A mão que de repente se chocava com o chão, primeiro uma, depois a outra; as pernas se abriam lá no alto, tão alto que pareciam tocar o céu Quando a perna chegava no chão, a menina que só olhava costumava respirar aliviada e orgulhosa da irmão que sempre foi tão mais corajosa que ela.
_Vamos ali na grama, não vai te machucar.
_Meu braço não me aguenta, vou cair de cabeça no chão.
_Aguenta sim, é só uma estrelinha.
_Pára, vai você! Olha, se você não parar eu vou lá pra dentro ver desenho e não brinco mais com você nunca mais.
_Tá, vamos brincar de outra coisa então.
Essa última frase acabou se tornando corriqueira na vida dessa menina. Sempre que algo parecia ser muito difícil ela resolvia brincar de outra coisa e realmente se convencia de que era melhor assim.
Ela não sabe dizer ao certo se foi em um momento específico ou em vários. Talvez pequenas doses de coragem e pessoas completamente inspiradoras foram a transformando em uma mulher que percebeu que uma hora ou outra ela precisara enfrentar algumas coisas para se tornar a pessoa em que ela sonhava em ser. Pegou seus medos, suas frustrações, sua falta de técnica e de sorte, juntou tudo numa mala dessas bem grandes e difíceis de serem carregadas, comprou uma passagem com moedas e notas amassadas e partiu.
No meio do caminho foi encontrando pessoas incríveis e que também carregavam malas, algumas maiores, outras menores mas todos seguiam o mesmo rumo.
Veio uma vontade incontrolável de dentro do seu coração e ela gritou:
_ALGUÉM QUER VIRAR ESTRELINHA?
Algumas pessoas olharam estranho para ela, com desconfiança. Já outras imediatamente começaram a fazer aquele movimento tão admirado e perigoso.
Ela começou a pelo menos tentar. Se sentiu tão livre e tão feliz. Feliz por ela, pela tentativa mesmo que frustrada, feliz por ver algumas estrelas lindamente alcançando o céu e outras, como ela, apenas tentando, se conhecendo e se divertindo. Sentiu alguém a puxando pelo braço e dizendo:
_Vamos ali na grama, não vai machucar, eu juro!
_Mas eu não quero mais, não vou conseguir.
_Vai sim! Pára de graça, eu te ajudo.
_Não precisa, não quero mais. Faz você, eu fico vendo.
E era sempre assim. A menina que se encantava vendo as outras pessoas virando estrela. A mão que de repente se chocava com o chão, primeiro uma, depois a outra; as pernas se abriam lá no alto, tão alto que pareciam tocar o céu Quando a perna chegava no chão, a menina que só olhava costumava respirar aliviada e orgulhosa da irmão que sempre foi tão mais corajosa que ela.
_Vamos ali na grama, não vai te machucar.
_Meu braço não me aguenta, vou cair de cabeça no chão.
_Aguenta sim, é só uma estrelinha.
_Pára, vai você! Olha, se você não parar eu vou lá pra dentro ver desenho e não brinco mais com você nunca mais.
_Tá, vamos brincar de outra coisa então.
Essa última frase acabou se tornando corriqueira na vida dessa menina. Sempre que algo parecia ser muito difícil ela resolvia brincar de outra coisa e realmente se convencia de que era melhor assim.
Ela não sabe dizer ao certo se foi em um momento específico ou em vários. Talvez pequenas doses de coragem e pessoas completamente inspiradoras foram a transformando em uma mulher que percebeu que uma hora ou outra ela precisara enfrentar algumas coisas para se tornar a pessoa em que ela sonhava em ser. Pegou seus medos, suas frustrações, sua falta de técnica e de sorte, juntou tudo numa mala dessas bem grandes e difíceis de serem carregadas, comprou uma passagem com moedas e notas amassadas e partiu.
No meio do caminho foi encontrando pessoas incríveis e que também carregavam malas, algumas maiores, outras menores mas todos seguiam o mesmo rumo.
Veio uma vontade incontrolável de dentro do seu coração e ela gritou:
_ALGUÉM QUER VIRAR ESTRELINHA?
Algumas pessoas olharam estranho para ela, com desconfiança. Já outras imediatamente começaram a fazer aquele movimento tão admirado e perigoso.
Ela começou a pelo menos tentar. Se sentiu tão livre e tão feliz. Feliz por ela, pela tentativa mesmo que frustrada, feliz por ver algumas estrelas lindamente alcançando o céu e outras, como ela, apenas tentando, se conhecendo e se divertindo. Sentiu alguém a puxando pelo braço e dizendo:
_Vamos ali na grama, não vai machucar, eu juro!
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