terça-feira, 7 de setembro de 2010

7 de setembro

Ela foi dormir um pouco embriagada, ressentida e se perguntando porque sempre era ela quem tinha de ceder e ser compreensiva.
Despertou com uma alegria inesperada do barulho das gotas de chuva caindo, mesmo que ainda timidamente, mas que anunciavam o fim daquele tempo terrível de seca que faziam mal às suas narinas. Ela agradeceu a Deus pela chuva e voltou a dormir quase que no mesmo instante.
Em sonho ela o beijou. Não era a primeira vez que isso acontecia mas dessa vez ela o sentia muito mais perto. Acordou com menos ressentimento, afinal ela o queria tão bem que não valia a pena, ela sabia que tudo voltaria ao normal.
Lembrou que era feriado e que não teria que levantar para trabalhar. Atentou-se ao barulho das panelas que sua mãe usava na cozinha. Com um pouco mais de atenção aos sons ela seria capaz de adivinhar o que a mãe estava cozinhando. A porta do quarto se abriu com uma rajada de vento, deixando assim entrar os aromas tão inebriantes que vinham da cozinha.
Se deu conta então que estava a muito tempo na cama e resolveu levantar-se. Sobre a mesa estava um bolo ainda quente, tão simples, com aparência de amor de mãe. Ao lado havia uma travessa de polenta com linguiça e molho de tomate, era o sabor da infância. O feijão ainda iria demorar para ficar pronto. Ela não poderia ter se sentido mais em paz.
Sentou-se à mesa com um copo de café com leite. Sua mãe fazia o café mais delicioso do mundo, doce e forte na medida certa, porém, desde que comprou a cafeteira, seu café doce e feito no cuador era um presente de finais de semana e feriados. Ela comeu um pedaço do bolo, tomou o copo de café e ficou observando a chuva que caía lá fora.
Logo resolveu checar suas mensagens e besteiras diárias na internet. Se deparou com lindas fotos de um piquenique que havia participado com seus amigos poucos dias antes.
Depois de algum tempo sua mãe lhe chamou para almoçarem juntas. Sua irmã levantou-se e se juntou à elas na mesa porém deciciu pelo café e pelo bolo com aparência irresistível. Elas conversaram sobre vários assuntos, dentre eles, a morte de um vizinho que tinha terríveis problemas com drogas e que morreu na noite anterior em sua própria casa. Ela ficou pensando em como a vida é curta, em quantas vezes o viu precisando de ajuda e não foi capaz de ajudá-lo e em quão mais fácil é pensarmos em nós mesmos do que nos outros.
A chuva ainda caía e ela quis dormir de novo. Deitou-se e ficou quietinha e quentinha, pensando naquele dia, naqueles momentos de paz e em como era bom ter um lar. Pensando em quanto amor ela sentia pelas pessoas e em como demonstrá-lo, até que dormiu novamente.
Sonhou com ele outro sonho e acodou se perguntando se, de alguma maneira, ele poderia sentir aquilo também.
Ouviu que, na sala, sua mãe e sua irmã estavam assistindo ao seu filme preferido. Ao ouvirem a porta abrindo elas disseram: Venha ver. Seu filme está passando na TV. Porém ela precisava se aprontar para sair.
O ensaio foi bom. Cada movimento a fazia esquecer o externo. A concentração pedia para que ela se entregasse à aquele momento. E ela o fez sem exitar.
Ao chegar em casa, tomou um banho quente, sentou novemante em frente ao computador para checar suas mediocridades e deixou que os dedos falassem por ela.

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