Essa noite eu demorei tanto pra dormir e finalmente quando consegui, sonhei uma vida.
Sonhei que estávamos andando e conversando no meio da rua e você pegava a minha mão. Eu, espantada, soltava rapidamente e você segurando-a de novo com força, dizia: Daqui pra frente vai ser assim.
Como num filme, na próxima cena do sonho nós fazíamos uma caminhada aproveitando que as crianças estavam na casa da avó. O tempo estava fechando e nós falávamos sobre trabalho. Começava a chover forte, uma chuva de verão e eu corria pra debaixo de um todo qualquer. Você tomando chuva pedia pra eu sair dali, que a gente nunca tinha tomado um banho de chuva juntos e eu dizia que você ia acabar ficando doente... Parecendo um menino, uma criança, me puxou pelo braço. Eu, parecendo uma menininha fresca, gritava e ria ao mesmo tempo enquanto você tirava sarro de mim. Consigo sentir até agora os pingos gelando minha camiseta e meu pulso dolorido pela força que você fez pra me puxar. Continuamos andando de mãos dadas. Você parou na frente de um bar que estava cheio de gente tentando se proteger da chuva, ajoelhou-se e começou a cantar: "Eu te amo e vou gritar pra todo mundo ouvir"... Eu morrendo de vergonha e de amor não sabia o que fazer. Brigava com você e dizia pra você parar de ser tonto enquanto as pessoas que estavam no bar batiam palma e assoviavam, achando muita graça. Você levantou, nos beijamos e continuamos andando.
Eu estava ansiosa. Andava de um lado pro outro esperando notícias. Você me criticando e dizendo o quanto sou impaciente. Eu tinha certeza de que você estava tão impaciente quanto eu mas você sempre soube disfarçar melhor. Nos chamaram e pudemos vê-lo através do vidro da maternidade. Nosso primeiro neto era a criança mais linda do mundo. Meu coração estava tão aliviado, tudo havia dado certo. Você segurou minha mão tão forte. Eu não conseguia tirar os olhos daquele bebê. Finalmente, quando me virei e olhei pra você, as lágrimas escoriam copiosamente, como eu nunca tinha visto antes. Nos abraçamos, juntamos nossas cabeças e continuamos olhando através do vidro por muito tempo.
Uma sensação diferente tomou conta do meu corpo e eu sentia muita sede. Tentei levantar pra pegar um copo de água mas não consegui. -O que você quer, meu amor?- disse você num tom fraco, porém solícito. -Água- respondi. Estranhei minha voz, a palavra saiu torta. -Água?- você me perguntou. -Sim. Fazendo um pouco de força comecei a sentir minhas mãos. A pele fina, os ossinhos saltando. Sentia um pouco de dor mas não sabia direito onde, pensei ser nas costas.Você me segurou e me colocou sentada. Bebi um gole e sentia muita dificuldade em engolir. Você pediu pra eu beber mais. Eu fiquei olhando pra você fixamente. Os pensamentos estavam embaralhados e quando olhei para a janela, estava chovendo. Com muito esforço eu te disse -Vamos lá fora? Você respondeu -Mas está chovendo. Eu tentei rir e disse- Então! Você riu e me colocou de volta na cama. Fiquei olhando pro alto com o olhar perdido. Me virei para o lado e você estava olhando pra mim e pude ver uma lágrima caindo do seu rosto. Dei um sorriso e fechei os olhos novamente. O ar foi ficando ralo, fraco... eu tentava respirar mas não conseguia.
Acordei com o coração acelerado e com o celular na beirada da cama, tocando. Respirei tão fundo, o ar entrou nas narinas provocando um alívio imediato na alma. Peguei o celular, não era você. Respirei fundo novamente e atendi..
um dia o cel irá tocar e será ele ...
ResponderExcluirQue fugaz o tempo Pri... que medo de não ver passar... ou de não aproveitar!
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